sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Biografia

Nasceu no interior do estado do Rio de Janeiro, filha de um alfaiate e de uma lavadeira. Sua mãe, chamada Margarida, abandonou o lar ao descobriu a infidelidade do marido. Oriunda de família pobre, foi bilheteira de cinema, além de apresentar-se para hóspedes de hotel em sua cidade natal.
Aos dezessete anos, fugiu de casa e se juntou a uma companhia de teatro. Estreou em
1929, em Leopoldina, integrando o elenco da Companhia Maria Castro. Fazendo teatro itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal em 1930, com quem se apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de "Os Pascoalinos". Em 1934, teve um relacionamento com o exportador de café mineiro Ademar Martins, do qual nasceu sua única filha, Dercimar.
Especializando-se na
comédia e no improviso, participou do auge do Teatro de revista brasileiro, nos anos 1930 e 1940, estrelando algumas delas, como "Rei Momo na Guerra", em 1943, de autoria de Freire Júnior e Assis Valente, na companhia do empresário Walter Pinto.
A partir da
década de 1960 inicia a carreira solo. Suas apresentações, em diversos teatros brasileiros, conquistam um público cheio de moralismos. Nesses espetáculos, gradativamente introduziu um monólogo, no qual relatava fatos autobiográficos. Paralelamente a estas apresentações atuou em diversos filmes do gênero chanchada e comédias nacionais.
Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da
TV Excelsior em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Depois passou para a TV Rio e já na TV Globo, convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto de Walter Clark. De 1966 a 1969 apresentou na TV Globo um programa de auditório de muito sucesso, Dercy de Verdade (1966-1969), que acabou saindo do ar com o início da Censura no país. No final dos anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados por Sílvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo. No SBT voltou a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.
Sua carreira foi pautada no individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas economias por parte de um empresário inescrupuloso — o que a fez retomar a carreira, já octogenária.

Todas as manhãs, a solidão me deixa deprimida. Moro sozinha, tem três pessoas que se revezam para me acompanhar. Minha filha não mora comigo. Filho não gosta de mãe; é a mãe que gosta do filho. Eles crescem, ganham independência e passam a ter prioridades. Eu me animo no cair da tarde, às 16h mais ou menos. Luto para ter forças para sair. Aí me arrumo, vou pro bingo. Lá, sou muito bem tratada, ganho cartelas e me distraio. À noite, vou a festas, jantares, adoro comer. E volto pra casa, durmo feliz. Assim são meus dias, sem expectativa.

— Dercy, em um desabafo
Recebeu, em
1985, o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.
Em
1991, foi enredo ("Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo") do desfile da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da escola no Grupo Especial das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica ao desfilar, no último carro, com os seios à mostra.
Sua biografia se intitula Dercy de Cabo a Rabo (1994), e foi escrita por
Maria Adelaide Amaral.
Em
4 de setembro de 2006, aos 99 anos, recebeu o título de cidadã honorária da cidade de São Paulo, concedido pela câmara de vereadores desta capital.

[editar] Cem anos
No dia 23 de junho de 2007, Dercy Gonçalves completou cem anos com uma festa na praça General Brás, no centro do município de Santa Maria Madalena (sua cidade natal) na região serrana do Rio de Janeiro. Na festa, Dercy comeu bolo, levantou as pernas fazendo graça para os fotógrafos, falou palavrão e saudou o povo, que parou para acompanhar a comemoração. Embora oficialmente tenha completado cem anos, Dercy afirma que seu pai a registrou com dois anos de atraso, logo teria completado 102 anos de idade.

Eu fiz 94 [anos], mas me digo que estou com 95 para me energizar e chegar lá. Escrevem o que eu digo: eu só vou morrer quando eu quiser! Não programo morte, eu programo vida!

— Ao completar 94 anos

[editar] Morte
Morreu com 101 anos,às 16h45, no dia
19 de julho de 2008, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ela foi internada na madrugada do sábado dia 19 de julho. A causa da morte teria sido uma complicação decorrente de uma pneumonia comunitária grave, que evoluiu para uma sepse pulmonar e insuficiência respiratória. O estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em memória à atriz.

Eu agradeço muito a Deus, pela vida que ele me deu

— Dercy Gonçalves

[editar] Filmografia
1943 - Samba em Berlim
1944 - Abacaxi Azul
1944 - Romance Proibido (Dercy)
1946 - Caídos do Céu (Rita Naftalina)
1948 - Folias Cariocas
1956 - Depois Eu Conto
1957 -
A Baronesa Transviada (Gonçalina / Baronesa)
1957 -
Absolutamente Certo (Bela)
1957 - Feitiço do Amazonas
1958 -
Uma certa Lucrécia (Lucrécia)
1958 - A Grande Vedete (Janete)
1959 -
Cala a Boca, Etelvina (Etelvina)
1959 -
Entrei de gaiato(Anastácia da Emancipação)
1959 - Minervina Vem Aí (Minervina)
1960 -
A Viúva Valentina (Valentina)
1960 -
Dona Violante Miranda (Violante Miranda)
1960 - Com Minha Sogra em Paquetá
1960 - Só Naquela Base
1963 -
Sonhando com Milhões
1970 -
Se Meu Dólar Falasse
1980 - Bububu no Bobobó
1983 -
O Menino Arco-Íris
1993 - Oceano Atlantis
2000 - Célia & Rosita (curta-metragem)

[editar] Televisão
1966: Dercy Espetacular - programa de variedades (Globo)
1968: Dercy de Verdade - programa de variedades (Globo)
1971: Dercy em Famlia - programa de variedades (Record)
1971: Família Trapo - participação como a namorada de Bronco (Record)
1980: Cavalo Amarelo - Dulcinéa (Rede Bandeirantes - Troféu Imprensa de Melhor Atriz, empate com Dina Sfat)
1980: Dulcinéa vai à guerra - Dulcinéa (Rede Bandeirantes)
1984: Humor Livre (Globo)
1989: Que Rei Sou Eu? - Baronesa Eknésia (participação especial) (Globo)
1990: La Mamma - Mamma (Globo)
1992: Deus nos Acuda - Celestina (Globo)
1994: Brasil Especial (Globo)
1996: Caça Talentos - Miss Dayse (Globo)
1996: Sai de Baixo - Mãe de Vavá e Cassandra (participação especial) (Globo)
2000: Fala Dercy (SBT)
2001: A Praça é Nossa - participações como ela mesma (SBT)

[editar] Frases célebres

O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Dercy Gonçalves.
Quem me criou foi o tempo, foi o ar. Ninguém me criou. Aprendi como as galinhas, ciscando, o que não me fazia sofrer eu achava bom.
Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi.
O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida". - Dercy Gonçalves, falando sobre a vida.
Eu já fui acusada de tudo. Eu era "negrinha" [sua avó era negra], menina de rua, mas nada disso me atingiu porque eu não sabia o que era o mundo. Não tinha nem amigos. Passeava na rua e era perseguida com 7, 10 anos, porque o negro é perseguido há séculos. - Dercy Gonçalves sobre a infância.
Não acredito em santo nenhum. Minha religião é a natureza. Deus é um apelido. Ele pra mim não existe. O que existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a natureza é a verdade.
Não podia levantar o braço na passarela. Arriei e fui dançando e cantando. Tinha os seios lindos naquela ocasião. Mostrei. Houve gritaria, escândalo, mas por quê? Os seios são a coisa mais linda na mulher". - Dercy Gonçalves, sobre ter mostrado os seios durante desfile em sua homenagem
no
carnaval carioca, aos 84 anos.

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